Olga Tukoff e a Policromia
Quando Olga Tukoff começou as suas pesquisas sobre a Policromia na Arte Sacra de Minas Gerais a técnica era bem pouco conhecida: havia caído no esquecimento como tantas outras de outrora e no Brasil inteiro apenas uns cinco artistas a praticavam, numa faina penosa de buscar informações e fórmulas, que haviam se tornado restritas ao âmbito da Restauração. O conhecimento era quase um segredo, revelado a custo.
A orientação de Jair Afonso Inácio, iniciada em 1964, quando este era o responsável pela obra de restauração da antiga Igreja Matriz Nossa Senhora de Assunção, a Sé de Mariana, despertou na menina de quatorze anos que "gostava de desenhar" a curiosidade que nunca mais se extinguiu pelas antigas maneiras de se fazer Arte. Vinte e seis anos transcorreram numa ligação estreita entre ambos, fundamentada na pesquisa dos materiais naturais e milenares e sua aplicação, encerrados apenas com a morte do mestre, em 1982.
Olga costuma contar que a sua primeira imagem policromada foi feita em meados de 1983 e, depois de pronta, o seu pensamento imediato foi para Jair, recentemente falecido.
O caso é que seus estudos foram avançando no decorrer dos anos, já com farto suporte de livros e fotos, coisas que eram raríssimas antes. Em outra vertente, nas décadas de '60 e '70 havia ela contado com a contribuição das aulas dadas por Hans Wittmer, Erna Lohrer Antunes e Nello Nuno, que ajudaram a delinear o seu perfil artístico que logo viria a florescer, tanto que em 1975 Henrique L. Alves, escritor brasileiro de São Paulo assim escreveu sobre os seus trabalhos:
“Chantada na visão cósmica das Gerais, Olga Tukoff traz a sensibilidade emotiva dos séculos, simbolizada na tradição implantada desde o Barroco.
Veio via Mariana com a carga emotiva do canto chão das igrejas, impregnada na beleza eterna da imagem, altares, sobrados, Aleijadinho.
Tem no sangue a tinta barroca, com formas de viver e sentir.
É a única artista no Brasil com repercussão no exterior que cultiva a técnica barroca.
Plasma autenticidade em seus oratórios, bancos, mesinhas, estantes, peças de teor original do século XVIII".
A partir do início da década de 1980 a artista multiplicou-se em imagens e outros ítens de menor porte baseados na Arte Sacra colonial e aos poucos enveredou para a feitura de grandes obras, desenvolvidas com maior assiduidade a partir de 2002: forros pintados, altares, murais, capelas.
Sua temática, inicialmente baseada no Barroco Mineiro, expandiu-se numa visão mundial, com foco na produção portuguesa, alemã e espanhola dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII.
Seus trabalhos romperam as fronteiras do Brasil e estão em diversos países, como Argentina, Bolívia, Equador, Guatemala, México, Panamá, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Portugal, Bélgica, Espanha, Marrocos e Israel, pelo que se sabe.
Olga Tukoff continua ativa em sua busca pela perfeição através da pesquisa da Arte Sacra e do rigoroso cumprimento das normas da Policromia, como quem cumpre um caminho há muito traçado, ajudando a manter viva uma tradição técnica que, por suas mãos e pelas de outros poucos, foi retomada em nosso país.